Se compreendermos bem o que é fé e o que é política, veremos que ambas estão profundamente relacionadas e dizem respeito a cada um de nós. Isto porque a fé, para quem crê de verdade, ilumina toda a nossa vida, inclusive o modo como fazemos política.
O QUE É FÉ?
No dicionário Aurélio, fé é definida como: “adesão e anuência pessoal a Deus, seus desígnios e manifestações”. “Pela fé o homem submete completamente sua inteligência e sua vontade a Deus” (CIC, n. 143).
Ou seja, ter fé não é somente acreditar que existe um Deus, cumprir uma série de ritos, rezar de vez em quando ou cumprir uma série de preceitos. A fé é uma decisão que envolve toda a nossa vida, pois é confiar totalmente Naquele em que cremos e deixar-nos conduzir pelos seus ensinamentos.
Foi isso que Jesus nos ensinou: “Não basta me dizer: “Senhor, Senhor!” para entrar no Reino dos céus; é preciso fazer a vontade do meu Pai” (Mt 7,21).
Portanto, somos homens e mulheres de fé se buscamos realizar a vontade de Deus em cada momento e em todas as áreas de nossa vida.
Na Missa, rezamos todos juntos: “Creio em Deus Pai Todo-poderoso (...), em Jesus Cristo (...) no Espírito Santo, etc.” Ou seja, proclamamos que vivemos segundo esta verdade, que este é o Deus em que cremos.
Pois bem, se cremos em um Deus que é Pai de todos, então todos são nossos irmãos, inclusive os que não crêem, os que pensam diferente e os que se declaram nossos inimigos.
Se é assim, a fé não é um assunto privado, individualista. Ao contrário, a fé nesse Deus Uno e Trino nos leva a um compromisso diário de amor aos irmãos, com o bem de todos. Saímos da Missa e vamos para a Missão.
O QUE É POLÍTICA?
Imaginem um país com milhões de habitantes. Cada uma dessas pessoas é nosso irmão e precisa ser alimentada, receber cuidados em saúde, ser educada, ter emprego e renda, acesso à cultura e ao lazer e garantia de segurança. Estas, entre outras, são as condições para que elas possam se desenvolver e crescer com dignidade e viver em paz.
Aqui começamos a falar de política, afinal ela é a arte de promover orgânica e institucionalmente o bem comum, ou seja, “o bem de todos naquilo que todos têm de comum” (Cezar Saldanha).
Mas, como fazer para que realmente seja alcançado o bem de todos e não só de uma parte da população? Com tantos interesses, como definir o que é prioridade?
Cada povo, cada País, tem um modo próprio de se organizar para buscar o bem comum. No Brasil, já tivemos Imperadores, Ditadores, e agora temos Presidentes, Governadores, Prefeitos, Vereadores, Deputados e Juízes, que compõem os três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Somos nós que, através do voto, elegemos nossos representantes no Executivo e no Legislativo. Eles são eleitos para promover o bem de todos, através das decisões administrativas, das leis e da fiscalização mútua. Quando um Prefeito ou um vereador busca o seu bem particular ou o de seus “amigos” ou quando se omite, prejudicando o bem comum, não está cumprindo a missão de nos representar. Está pecando, realizando um ato imoral e faltando com a caridade e a justiça.
Se um eleitor vende o seu voto ou escolhe irresponsavelmente seu candidato, além de “dar um tiro no próprio pé”, ele também peca e prejudica a todos.
Portanto, o voto não termina no dia das eleições. Ele tem consequências diretas na vida de toda população. Se o político é eleito para nos representar, precisamos acompanhá-lo, fiscalizá-lo, dar-lhe sugestões, apoiá-lo e cobrá-lo.
Sozinhos esta tarefa é quase irrealizável, mas unidos podemos fazer muito para que a voz da população seja ouvida pelos seus representantes. Daí a importância das igrejas, das ONGs, dos partidos, dos sindicatos, das associações, dos conselhos e dos clubes de serviço, entre outras modalidades de associativismo.
Se verificamos atos de corrupção, atos ilegais e injustos, podemos recorrer à Justiça, buscar apoio do Ministério Público (Promotor) e promover ações para corrigir estes atos e punir os infratores.
Mas, na hora das decisões, quais são os princípios, os critérios que devem ser utilizados para definir o que é bom ou mau para todos? Como discernir a vontade de Deus?
No campo político-social, a Igreja Católica orienta seus membros através da chamada Doutrina Social da Igreja. Este conjunto de ensinamentos é como um farol que ajuda os cristãos a navegar nos mares do mundo dando referências e apontando caminhos na busca do bem comum. É muito importante que cada vez mais católicos conheçam essa Doutrina e a apliquem no seu dia-a-dia.
POLÍTICA, O MAIS ALTO GRAU DO AMOR
Quem realmente tem fé em Jesus, ouve sua voz e cumpre seus mandamentos, os quais podem ser resumidos em: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Se encontramos um irmão necessitado, pela fé que temos em Cristo, podemos saciar-lhe a fome e dar-lhe vestes. Este é um ato de caridade, movido pela fé. Contudo, ainda mais importante é agir de tal modo que sejam sanadas as causas que levam aquele irmão a não ter o que comer e o que vestir. Este é um ato de caridade política. Portanto, na política se manifesta o mais alto grau do amor fraterno.
Desta forma, quem vive a fé em Jesus, não pode ser indiferente à política. Pelo contrário, iluminados pelo Evangelho e pela Doutrina Social da Igreja, os cristãos põem a mão na massa e buscam construir a Civilização do Amor.
Ou seja: fé e política se misturam.
Por Leandro Alberione Batista da Costa