24 de março de 2012

(Re)descobrir a oração



Exercício para alcançar qualidade de vida

A oração é um exercício fundamental na busca pela qualidade de vida. Nas indicações que não podem faltar, especialmente para a vida cristã, estão a prática e o cultivo disciplinado da oração. É um exercício que tem força incomparável em relação às diversas abordagens de autoajuda, como livros e DVDs, muito comuns na atualidade.
A crise existencial contemporânea, em particular na cultura ocidental, precisa redescobrir o caminho da oração para uma vida de qualidade. Equivocado é o entendimento que pensa a oração como prática exclusiva de devotos. A oração guarda uma dimensão essencial da vida cristã. Cultivar essa prática é um segredo fundamental para reconquistar a inteireza da própria vida e fecundar o sentido que a sustenta.
É muito oportuno incluir entre as diversificadas opiniões, junto aos variados assuntos discutidos cotidianamente, o que significa e o que se pode alcançar pelo caminho da oração. Perdê-la como força e não adotá-la como prática diária é abrir mão de uma alavanca com força para mover mundos. A fé cristã, por meio da teologia, tem por tradição abordar a importância da oração ao analisar a sua estrutura fundamental, seus elementos constitutivos, suas formas e os modos de sua experiência. Trata-se de uma importante ciência e de uma prática rica para fecundar a fé.
A oração tem propriedades para qualificar a vida pessoal, familiar, social e comunitária. Muitos podem desconhecer, mas ela [a oração] pode ser um laço irrenunciável com o compromisso ético. É prática dos devotos, mas também um estímulo à cidadania. Ao contrário de ser fuga das dificuldades, é clarividência e sabedoria, tão necessários no enfrentamento dos problemas. Na verdade, a prece faz brotar uma fonte interior de decisões, baseadas em valores com força qualitativa.
A oração, como prática e como inquestionável demanda, no entanto, passa por uma crise por razões socioculturais. Aliás, uma crise numa cultura ocidental que nunca foi radicalmente orante. O secularismo e a mentalidade racionalista se confrontam com aspectos importantes da vida oracional, como a intercessão e a contemplação. Diante desse cenário, é importante sublinhar: paga-se um preço muito alto quando se configura o caminho existencial distante da dimensão transcendente. O distanciamento, o desconhecimento e a tendência de banir o divino como referencial produzem vazios que atingem frontalmente a existência.
É longo o caminho para acertar a compreensão e fazer com que todos percebam o horizonte rico e indispensável da oração. Faz falta a clareza de que existem situações e problemas que a política, a ciência e a técnica não podem oferecer soluções, como o sentido da vida e a experiência de uma felicidade duradoura. A oração é caminho singular. É, pois, indispensável aprender a orar e cultivar a disciplina diária da oração. Trata-se de um caminhar em direção às raízes e ao essencial. Nesse caminho está um remédio indispensável para o mundo atual, que proporciona mais fraternidade e experiências de solidariedade.
A lógica dominante da sociedade contemporânea está na contramão dessa busca. Os mecanismos que regem o consumismo e a autossuficiência humana provocam mortes. Sozinho, o progresso tecnológico, tão necessário e admirável, produz ambiguidades fatais e inúmeras contradições. Orar desperta uma consciência própria de autenticidade. Impulsiona à experiência humilde do próprio limite e inspira a conversão. É recomendação cristã determinante dos rumos da vida e de sua qualidade. A Igreja Católica tem verdadeiros tesouros, na forma de tratados, de estudos, de reflexões, e de indicações para o cultivo da oração, que remetem à origem do Cristianismo, quando os próprios discípulos pediram a Jesus: “Ensina-nos a orar”. É uma tarefa missionária essencial na fé, uma aprendizagem necessária, um cultivo para novas respostas na qualificação pessoal e do tecido cultural sustentador da vida em sociedade.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte

29 de fevereiro de 2012

Quaresma


Como viver bem esse tempo forte de meditação, oração, jejum, esmola?

Neste tempo especial de graças que é a Quaresma devemos aproveitar ao máximo para fazermos uma renovação espiritual em nossa vida. O Apóstolo São Paulo insistia: "Em nome de Cristo vos rogamos: reconciliai-vos com Deus!" (2 Cor 5, 20); "exortamo-vos a que não recebais a graça de Deus em vão. Pois ele diz: Eu te ouvi no tempo favorável e te ajudei no dia da salvação (Is 49,8). Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação." (2 Cor 6, 1-2).
Cristo jejuou e rezou durante quarenta dias (um longo tempo) antes de enfrentar as tentações do demônio no deserto e nos ensinou a vencê-lo pela oração e pelo jejum. Da mesma forma a Igreja quer ensinar-nos como vencer as tentações de hoje. Daí surgiu a Quaresma.
Na Quarta-Feira de Cinzas, quando ela começa, os sacerdotes colocam um pouquinho de cinzas sobre a cabeça dos fiéis na Missa. O sentido deste gesto é de lembrar que um dia a vida termina neste mundo, "voltamos ao pó" que as cinzas lembram. Por causa do pecado, Deus disse a Adão: "És pó, e ao pó tu hás de tornar". (Gênesis 2, 19)
Este sacramental da Igreja lembra-nos que estamos de passagem por este mundo, e que a vida de verdade, sem fim, começa depois da morte; e que, portanto, devemos viver em função disso. As cinzas humildemente nos lembram que após a morte prestaremos contas de todos os nossos atos, e de todas as graças que recebemos de Deus nesta vida, a começar da própria vida, do tempo, da saúde, dos bens, etc.
Esses quarenta dias, devem ser um tempo forte de meditação, oração, jejum, esmola ('remédios contra o pecado'). É tempo para se meditar profundamente a Bíblia, especialmente os Evangelhos, a vida dos Santos, viver um pouco de mortificação (cortar um doce, deixar a bebida, cigarro, passeios, churrascos, a TV, alguma diversão, etc.) com a intenção de fortalecer o espírito para que possa vencer as fraquezas da carne.
Na Oração da Missa de Cinzas a Igreja reza: "Concedei-nos ó Deus todo poderoso, iniciar com este dia de jejum o tempo da Quaresma para que a penitência nos fortaleça contra o espírito do Mal".
Sabemos como devemos viver, mas não temos força espiritual para isso.A mortificação fortalece o espírito. Não é a valorização do sacrifício por ele mesmo, e de maneira masoquista, mas pelo fruto de conversão e fortalecimento espiritual que ele traz; é um meio, não um fim.
Quaresma é um tempo de "rever a vida" e abandonar o pecado (orgulho, vaidade, arrogância, prepotência, ganância, pornografia, sexismo, gula, ira, inveja, preguiça, mentira, etc.). Enfim, viver o que Jesus recomendou: "Vigiai e orai, porque o espírito é forte mas a carne é fraca".
Embora este seja um tempo de oração e penitência mais profundas, não deve ser um tempo de tristeza, ao contrário, pois a alma fica mais leve e feliz. O prazer é satisfação do corpo, mas a alegria é a satisfação da alma.
Santo Agostinho dizia que "o pecador não suporta nem a si mesmo", e que "os teus pecados são a tua tristeza; deixa que a santidade seja a tua alegria". A verdadeira alegria brota no bojo da virtude, da graça; então, aQuaresma nos traz um tempo de paz, alegria e felicidade, porque chegamos mais perto de Deus.
Para isso podemos fazer uma confissão bem feita; o meio mais eficaz para se livrar do pecado. Jesus instituiu a confissão em sua primeira aparição aos discípulos, no mesmo domingo da Ressurreição (Jo 20,22) dizendo-lhes: "a quem vocês perdoarem os pecados, os pecados estarão perdoados". Não há graça maior do que ser perdoado por Deus, estar livre das misérias da alma e estar em paz com a consciência.
Jesus quis que nos confessemos com o sacerdote da Igreja, seu ministro, porque ele também é fraco e humano, e pode nos compreender, orientar e perdoar pela autoridade de Deus. Especialmente aqueles que há muito não se confessam, têm na Quaresma uma graça especial de Deus para se aproximar do confessor e entregar a Cristo nele representado, as suas misérias.
Uma prática muito salutar que a Igreja nos recomenda durante a Quaresma, uma vez por semana, é fazer o exercício da Via Sacra, na igreja, recordando e meditando a Paixão de Cristo e todo o seu sofrimento para nos salvar. Isto aumenta em nós o amor a Jesus e aos outros.
Não podemos esquecer também que a Santa Missa é a prática de piedade mais importante da fé católica, e que dela devemos participar, se possível, todos os dias da Quaresma. Na Missa estamos diante do Calvário, o mesmo e único Calvário. Sim, não é a repetição do Calvário, nem apenas a sua "lembrança", mas a sua "presentificação"; é a atualização do Sacrifício único de Jesus. A Igreja nos lembra que todas as vezes que participamos bem da Missa, "torna-se presente a nossa redenção".
Assim podemos viver bem a Quaresma e participar bem da Páscoa do Senhor, enriquecendo a nossa alma com as suas graças extraordinárias; podendo ser melhor e viver melhor.

Por Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com / 
http://blog.cancaonova.com/felipeaquino/

9 de fevereiro de 2012

O Alpinista




Certo alpinista, com obsessão por conquistar uma alta montanha, iniciou sua solitária ascensão após anos de preparação.

Começou a escalar enquanto entardecia. Em vez de acampar, decidiu continuar em frente. Escureceu. A noite caiu sobre a neve da montanha. A luz e as estrelas estavam cobertas pelas nuvens. Já não se podia ver absolutamente nada. Estava tudo negro, mas ele não se detinha.

Desafiando uma escarpa, escorregou no gelo, caindo lentamente, mas sem se deter, embora percutisse na neve com o piolet (bastão). O alpinista só conseguia ver manchas escuras, além da terrível sensação de ser sugado pela gravidade.

Quando já estava caindo no precipício, sentiu o fortíssimo puxão da longa corda que o amarrava pela cintura. Nesse momento de quietude, balançando-se e suspenso no ar; sem ver o fundo do abismo, desafiou o Senhor e gritou com toda a sua fé:

- Se me amas, ajuda-me, meu Deus!

Uma voz grave e profunda, vinda do céu, respondeu-lhe:

- Se te amo, que queres que faça?

- Salva-me, meu Deus. Não vejo nada. Tu és minha única esperança.

- Crês, realmente, que eu te ame tanto que possa salvar-te?

- Certamente, Senhor. Eu tenho fé em teu amor e em teu poder.

O alpinista supunha que iria aparecer uma mão poderosa para resgatá-lo, ou que viria uma legião de anjos para transportá-lo a um lugar seguro. Todavia, a mesma voz celestial ordenou-lhe o que menos esperava:

- Então, se crês em meu amor por ti, corta a corda que te sustém.

Houve um momento de silêncio e de dúvida. Aquele homem, supondo que cairia no abismo, agarrou-se à corda com firmeza ainda maior...

No dia seguinte, a equipe de resgate encontrou um alpinista morto, congelado, com suas mãos presas fortemente à corda, a apenas um metro do solo.

(História retirada do livro "Para mim, o viver é Cristo. Paulo de Tarso" de autoria de José H. Prado Flores; Editora Canção Nova; São Paulo, SP, 2009)



Reflexão:

Que história interessante! Por certo, nos faz refletir sobre a nossa vida, os nossos anseios, a fé que sustentamos, a credibilidade que damos a Deus. Voltemos à história! O alpinista tinha uma meta, um sonho a realizar, um desafio a superar: escalar uma alta montanha. As oportunidades apareceram e ali estava ele escalando. Porém, em algum momento, algo inesperado acontece: o alpinista despenca e cai. Nesse momento, a sua fé e credibilidade em Deus são postas à prova. Mas infelizmente, cheio de seguranças e convicções puramente humanas, ele não confiou em Deus.

Voltemos à nossa realidade!

Quantas vezes, ao longo de nossas vidas, estamos diante de desafios, dificuldades; quantos obstáculos aparecem na intenção de nos fazer desistir (que os desafios, dificuldades e obstáculos sejam entendidos também como aqueles que corrompem a plenitude do amor entre os semelhantes). Pois é, a história do alpinista é semelhante a nossa! Por vezes, em meio as aflições, não temos a coragem de parar, ouvir a voz de Deus ecoando em nosso interior, e "cortar a corda" das nossas limitações, do orgulho, das seguranças puramente humanas, do pecado, que nos impedem de progredir. Por vezes, assim como o alpinista, cremos em Deus, mas não damos crédito a Ele. Não temos paciência para esperar Suas providências. Queremos tudo ao nosso tempo. Queremos tudo que pensamos ser necessários para nossas vidas. Não temos a coragem de nos abandonar nos braços d'Aquele que nos ama incondicionalmente e confiar em Suas ações.

Nós não compramos a salvação, esta se apresenta como uma dádiva de Deus e que pode ser nossa a partir do momento em que damos crédito a Ele, de modo que confiamos absolutamente em Seu poder e misericórdia. O fato é que Deus realizou muitos prodígios (incontáveis) e na vida de muitos e pode realizar na nossa se abrirmos o nosso coração e confiarmos plenamente. Ele não é somente Pai, Ele é Papaizinho; nós não somos somente filhos, somos filhinhos; somos queridíssimos e não podemos deixar que esse laço de Amor absoluto seja enfraquecido ou até mesmo rompido por nosso desespero, aridez espiritual, desconfiança, pelos erros que cometemos. Infelizmente, em nossa sociedade, somos convidados a viver como "ateus práticos", que até acreditam em Deus, mas vivem como se Ele não existisse.

Irmãos, em Deus, somos capazes de realizar obras grandiosas (escalar montanhas, ser aprovados no vestibular para aquele curso que tanto almejamos, comprar aquele carro com a honestidade evidenciada em nosso trabalho, enfim, até dos milagres podemos participar junto a Deus). E para estarmos n'Ele é preciso buscá-lo e abrir o nosso coração, nos despojando de tudo aquilo que nos faz ir de encontro a Deus (contra Sua vontade, Seus ensinamentos e princípios de salvação e vida eterna).

Peçamos a graça do Espírito Santo, que esta possa ser "derramada" em nossas vidas, sejamos sensíveis para ouvir a voz de Deus em nossos corações, entendamos que o Seu auxílio não está tão evidente aos nossos olhos (como o alpinista pensou que Deus enviaria anjos ou mesmo daria Sua mão para retirá-lo e levá-lo a um lugar seguro) peçamos o auxílio de Deus e confessemos a Ele que entregamos nossas vidas à Sua vontade e nos desprendemos de nossas limitações.

Paz e bem. Do irmão de caminhada

Victor Oliveira (Ministério Jovem - Setor Palmeira dos Índios)

31 de janeiro de 2012

Fé e Política se misturam?


Se compreendermos bem o que é fé e o que é política, veremos que ambas estão profundamente relacionadas e dizem respeito a cada um de nós. Isto porque a fé, para quem crê de verdade, ilumina toda a nossa vida, inclusive o modo como fazemos política.
O QUE É FÉ?
No dicionário Aurélio, fé é definida como: “adesão e anuência pessoal a Deus, seus desígnios e manifestações”. “Pela fé o homem submete completamente sua inteligência e sua vontade a Deus” (CIC, n. 143). 
Ou seja, ter  fé não é somente acreditar que existe um Deus, cumprir uma série de ritos, rezar de vez em quando ou cumprir uma série de preceitos. A fé é uma decisão que envolve toda a nossa vida, pois é confiar totalmente Naquele em que cremos e deixar-nos conduzir pelos seus ensinamentos.
Foi isso que Jesus nos ensinou: “Não basta me dizer: “Senhor, Senhor!” para entrar no Reino dos céus; é preciso fazer a vontade do meu Pai” (Mt 7,21).
Portanto, somos homens e mulheres de fé se buscamos realizar a vontade de Deus em cada momento e em todas as áreas de nossa vida.
Na Missa, rezamos todos juntos: “Creio em Deus Pai Todo-poderoso (...), em Jesus Cristo (...) no Espírito Santo, etc.” Ou seja, proclamamos que vivemos segundo esta verdade, que este é o Deus em que cremos.
Pois bem, se cremos em um Deus que é Pai de todos, então todos são nossos irmãos, inclusive os que não crêem, os que pensam diferente e os que se declaram nossos inimigos.
Se é assim, a fé não é um assunto privado, individualista. Ao contrário, a fé nesse Deus Uno e Trino nos leva a um compromisso diário de amor aos irmãos, com o bem de todos. Saímos da Missa e vamos para a Missão.
O QUE É POLÍTICA?
Imaginem um país com milhões de habitantes. Cada uma dessas pessoas é nosso irmão e precisa ser alimentada, receber cuidados em saúde, ser educada, ter emprego e renda, acesso à cultura e ao lazer e garantia de segurança. Estas, entre outras, são as condições para que elas possam se desenvolver e crescer com dignidade e viver em paz.
Aqui começamos a falar de política, afinal ela é a arte de promover orgânica e institucionalmente o bem comum, ou seja, “o bem de todos naquilo que todos têm de comum” (Cezar Saldanha).
Mas, como fazer para que realmente seja alcançado o bem de todos e não só de uma parte da população? Com tantos interesses, como definir o que é prioridade?
Cada povo, cada País, tem um modo próprio de se organizar para buscar o bem comum. No Brasil, já tivemos Imperadores, Ditadores, e agora temos Presidentes, Governadores, Prefeitos, Vereadores, Deputados e Juízes, que compõem os três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Somos nós que, através do voto, elegemos nossos representantes no Executivo e no Legislativo. Eles são eleitos para promover o bem de todos, através das decisões administrativas, das leis e da fiscalização mútua. Quando um Prefeito ou um vereador busca o seu bem particular ou o de seus “amigos” ou quando se omite, prejudicando o bem comum, não está cumprindo a missão de nos representar. Está pecando, realizando um ato imoral e faltando com a caridade e a justiça.
Se um eleitor vende o seu voto ou escolhe irresponsavelmente seu candidato, além de “dar um tiro no próprio pé”, ele também peca e prejudica a todos.
Portanto, o voto não termina no dia das eleições. Ele tem consequências diretas na vida de toda população. Se o político é eleito para nos representar, precisamos acompanhá-lo, fiscalizá-lo, dar-lhe sugestões, apoiá-lo e cobrá-lo.
Sozinhos esta tarefa é quase irrealizável, mas unidos podemos fazer muito para que a voz da população seja ouvida pelos seus representantes. Daí a importância das igrejas, das ONGs, dos partidos, dos sindicatos, das associações, dos conselhos e dos clubes de serviço, entre outras modalidades de associativismo.
Se verificamos atos de corrupção, atos ilegais e injustos, podemos recorrer à Justiça, buscar apoio do Ministério Público (Promotor) e promover ações para corrigir estes atos e punir os infratores.
Mas, na hora das decisões, quais são os princípios, os critérios que devem ser utilizados para definir o que é bom ou mau para todos? Como discernir a vontade de Deus?
No campo político-social, a Igreja Católica orienta seus membros através da chamada Doutrina Social da Igreja. Este conjunto de ensinamentos é como um farol que ajuda os cristãos a navegar nos mares do mundo dando referências e apontando caminhos na busca do bem comum. É muito importante que cada vez mais católicos conheçam essa Doutrina e a apliquem no seu dia-a-dia.
POLÍTICA, O MAIS ALTO GRAU DO AMOR
Quem realmente tem fé em Jesus, ouve sua voz e cumpre seus mandamentos, os quais podem ser resumidos em: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Se encontramos um irmão necessitado, pela fé que temos em Cristo, podemos saciar-lhe a fome e dar-lhe vestes. Este é um ato de caridade, movido pela fé. Contudo, ainda mais importante é agir de tal modo que sejam sanadas as causas que levam aquele irmão a não ter o que comer e o que vestir. Este é um ato de caridade política. Portanto, na política se manifesta o mais alto grau do amor fraterno.
Desta forma, quem vive a fé em Jesus, não pode ser indiferente à política. Pelo contrário, iluminados pelo Evangelho e pela Doutrina Social da Igreja, os cristãos põem a mão na massa e buscam construir a Civilização do Amor.
Ou seja: fé e política se misturam.

Por Leandro Alberione Batista da Costa

20 de janeiro de 2012

O Sinal da Cruz





Por Padre Marcelo Rossi


(†) Pelo sinal da Santa Cruz, (†) livrai-nos Deus, Nosso Senhor, (†) dos nossos inimigos, (†) em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

  Quantas pessoas fazem o Sinal da Cruz, ou como se costuma dizer, o “Pelo Sinal” antes das orações, ou pelo menos uma vez ao dia? 

   A impressão que temos é que o número é bastante reduzido, especialmente entre os mais jovens. 
   A maioria faz, e às vezes de modo displicente, o “Em nome do Pai”, ficando apenas no gesto, sem invocar a Santíssima Trindade.
   O Sinal da Cruz é uma oração importante que deve ser rezada logo que acordamos, como a nossa primeira oração, para que Deus, pelos méritos da Cruz de Seu Divino Filho, nos proteja durante todo o dia. 
   Com este Sinal, que é o sinal do cristão, nós pedimos proteção contra os nossos inimigos. 
   Que inimigos? 
   Todos aqueles que atentem contra a nossa pessoa, para nos causar tanto males físicos, quanto espirituais.
   O Sinal da Cruz, feito antes de iniciarmos as nossas orações, nos predispõe a bem rezar.

              † Pelo sinal da Santa Cruz: ao traçarmos a primeira cruz em nossa testa, nós estamos pedindo a Deus que proteja a nossa mente dos maus pensamentos, das ideologias malsãs e das heresias, que tanto nos tentam nos dias de hoje e mantendo a nossa inteligência alerta contra todos os embustes e ciladas do demônio;
              † Livrai-nos Deus, Nosso Senhor: com esta segunda cruz sobre os lábios, estamos pedindo para que de nossa boca só saiam palavras de louvor: louvor a Deus, louvor aos Seus Santos e aos Seus Anjos; de agradecimento a Deus, pois tudo o que somos e temos são frutos da Sua misericórdia e do Seu amor e não dos nossos méritos; que as nossas palavras jamais sejam ditas para ofender o nosso irmão.

              Dos nossos inimigos – esta terceira cruz tem como objetivo proteger o nosso coração contra os maus sentimentos: contra o ódio, a vaidade, a inveja, a luxúria e outros vícios; fazer dele uma fonte inesgotável de amor a Deus, a nós mesmos e ao nosso próximo; um coração doce, como o de Maria e manso e humilde como o de Jesus.

12 de janeiro de 2012

Sexualidade e Castidade


1. Introdução

Muitos hoje, em um grande pré-conceito em relação à fé católica, acreditam que a Santa Igreja vê o sexo como algo mau, impuro ou pecaminoso, e isso é um engano.

Um olhar mais aprofundado sobre a doutrina católica mostra a imensa dignidade na qual a Santa Igreja vê a sexualidade. Diz o Catecismo da Igreja Católica que "a união do homem e da mulher no casamento é uma maneira de imitar na carne a generosidade e a fecundidade do Criador. (...) Dessa união procedem todas as gerações humanas." (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2335).

Diz também o Catecismo ainda que, pela sexualidade, “os esposos participam do poder criador e da paternidade de Deus” (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2367). Isso está claro já nos primeiros capítulos da Sagrada Escritura, quando Deus cria o homem e a mulher à sua imagem e semelhança, e lhes diz: “Frutificai, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a” (Gn 1,28). E mais adiante: “Por isso o homem deixa seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne” (Gn 2,24).

Se, portanto, a Santa Igreja crê que:

·         Pela sexualidade o homem e a mulher imitam a generosidade de Deus;
·         Deus condiciona ao ato sexual nada menos do que a geração de uma nova vida humana;
·         Pelo ato sexual os esposos participam do poder criador de Deus;
·         O próprio Deus ordena que, em sua vocação natural, o homem e a mulher se unam no ato sexual

Como se poderá afirmar que a fé católica vê o sexo como algo mau, impuro ou pecaminoso?

Foi o próprio Deus, ainda, que dispôs a natureza de forma à haver prazer no ato que perpetua a espécie humana - da mesma forma que normalmente há prazer natural em todos os atos humanos necessários para a sobrevivência e perpetuação da espécie: comer, beber, dormir, e assim por diante.

O Sagrado Magistério da Igreja ensina ainda que não há problema algum em os esposos desejarem este prazer no ato sexual e o gozarem, DESDE QUE ISSO SEJA VIVIDO NOS JUSTOS LIMITES. Nesse sentido, o saudoso Papa Pio XII nos ensina: "O próprio Criador estabeleceu que nesta função os esposos sentissem prazer e satisfação no corpo e no espírito. Portanto, os esposos não fazem nada de mal em procurar este prazer e em gozá-lo. Eles aceitam o que o Criador lhes destinou. Contudo, os esposos devem manter-se nos limites de uma moderação justa" (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2362).

2. Finalidades procriadora e unitiva

Quais seriam estes justos limites? É aquilo que a fé católica chama de virtude da Castidade. O Catecismo da Igreja Católica nos ensina: "A castidade significa a integração correta da sexualidade na pessoa" (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2347). E ainda: "Todos os fiéis de Cristo são chamados a levar uma vida casta segundo seu estado de vida" (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2348). Ou seja, a virtude da castidade consiste na maneira correta de viver a sexualidade. Cada membro da Santa Igreja é chamado por Nosso Senhor Jesus Cristo à viver a Castidade segundo a sua vocação.

Para isso, precisamos compreender que o ato sexual naturalmente tem duas finalidades: a finalidade unitiva, que diz respeito ao bem e à santificação do casal, e a finalidade procriadora, que diz respeito à geração da vida. Diz o Catecismo: "Salvaguardando esses dois aspectos essenciais, unitivo e procriador, o ato conjugal conserva integralmente o sentido de amor mútuo e verdadeiro e sua ordenação para altíssima vocação do homem para a paternidade" (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2369).

O prazer é consequência natural do ato conjugal, e não finalidade do ato. Assim, qualquer atitude que faça uso da sexualidade buscando o “prazer pelo prazer”, fora da sua finalidade unitiva ou fechando-se intencionalmente à sua finalidade procriadora, é uma atitude imoral.

3. Pecados contra a castidade

O Catecismo especifica: "Entre os pecados gravemente contrários à castidade é preciso citar a masturbação, a fornicação, a pornografia e as práticas homossexuais" (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2396).

A masturbação atenta tanto contra a finalidade unitiva do ato sexual, quanto contra a finalidade procriadora, e por isso é si mesmo imoral. Diz o Catecismo: "Por masturbação se deve entender a excitação voluntária dos órgãos genitais a fim de conseguir um prazer venéreo. (...) A masturbação é um ato intrínseca e gravemente desordenado. Qualquer que seja o motivo, o uso deliberado da faculdade sexual fora das relações conjugais normais contradiz sua finalidade" (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2352).

Embora a masturbação seja em si mesma imoral, certos fatores psicológicos, podem atenuar a culpabilidade do ato, de forma que, em certas circunstâncias, possa ser apenas um pecado venial ou não ser nem mesmo pecado, embora seja sempre um ato imoral (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2352). Nesse caso, fala-se em alguma alteração psicológica ou distúrbio mental aos quais o indivíduo pode estar submetido, exacerbando suas ações (como o Transtorno Obsessivo Compulsivo, a Hiperatividade) e ultrapassando, que seja inconscientemente, certos limites.

A fornicação é a "união carnal fora do casamento entre um homem e mulher livres" (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2353). Atenta contra a finalidade unitiva do ato sexual, pois é praticado fora do compromisso definitivo entre homem e mulher que se dá no matrimônio. O contexto adequado para o ato sexual é, portanto, o matrimônio, e jamais o namoro, nem mesmo o noivado. A fornicação "é gravemente contrária à dignidade das pessoas e da sexualidade humana, naturalmente ordenada para o bem dos esposos, bem como para a geração e educação dos filhos" (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2353).

Diz o Catecismo que "a homossexualidade designa as relações entre homens e mulheres que sentem atração sexual, exclusiva ou predominantemente, por pessoas do mesmo sexo. (...) Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves, a tradição sempre declarou que os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados. São contrários à lei natural. Fecham o ato sexual ao dom da vida. Não procedem de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira. Em caso algum podem ser aprovados. As pessoas homossexuais são chamadas à castidade" (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2357).

A Santa Igreja, porém, acolhe e respeita o homossexual enquanto pessoa, embora não aprove as práticas homossexuais; ela ama o pecador, mas odeia o pecado. Diz o Catecismo: "Um número não negligenciável de homens e mulheres apresenta tendências homossexuais inatas. Não são eles que escolhem sua condição homossexual; para a maioria, pois, esta constitui uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á para com eles todo sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus na sua vida e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar por causa de sua condição. As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes de autodomínio, educadoras da liberdade interior, às vezes pelo apoio de uma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem se aproximar, gradual e resolutamente, da perfeição cristã" (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2359).

4. Castidade no matrimônio

Opõe-se à castidade no matrimônio:

·         O adultério;
·         O espaçamento (distanciar) do nascimento dos filhos sem razões justas (sejam elas físicas, psicológicas, econômicas, etc);
·         O espaçamento do nascimento dos filhos por métodos contraceptivos artificiais, que tornam o ato sexual intencionalmente infecundo.

No matrimônio, "os dois se doam definitiva e totalmente um ao outro. Não são mais dois, mas formam doravante uma só carne. A aliança contraída livremente pelos esposos lhes impõe a obrigação de a manter una e indissolúvel" (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2364). O adultério designa a "infidelidade conjugal. Quando dois parceiros, dos quais um é casado, estabelecem entre si uma relação sexual, mesmo efêmera, cometem adultério" (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2380).

Como no matrimônio há uma união indissolúvel, se o matrimônio é válido e uma das partes do casal contrai a chamada "segunda união", comete adultério. Se, por condições particulares, a convivência enquanto casal torna-se impossível, e havendo dúvidas sobre a validade do matrimônio supostamente contraído (existem diversas razões que podem haver comprometido sua validade), deve-se procurar os Tribunais Eclesiásticos para avaliar se o matrimônio realmente existiu ou não.

Sobre isso, assim se expressou recentemente o Santo Padre Bento XVI: "Nos casos em que surjam legitimamente dúvidas sobre a validade do Matrimônio sacramental contraído, deve fazer-se tudo o que for necessário para verificar o fundamento das mesmas. Há que assegurar, pois, no pleno respeito do direito canônico, a presença no território dos tribunais eclesiásticos, o seu caráter pastoral, a sua atividade correta e pressurosa; é necessário haver, em cada diocese, um número suficiente de pessoas preparadas para o solícito funcionamento dos tribunais eclesiásticos. (...) Enfim, caso não seja reconhecida a nulidade do vínculo matrimonial e se verifiquem condições objetivas que tornam realmente irreversível a convivência, a Igreja encoraja estes fiéis a esforçarem-se por viver a sua relação segundo as exigências da lei de Deus, como amigos, como irmão e irmã; deste modo poderão novamente abeirar-se da mesa eucarística, com os cuidados previstos por uma comprovada prática eclesial" (SACRAMENTUM CARITATIS, 29).

Deve-se observar que um matrimônio consumado jamais poderá ser anulado, mas sim, declarado que, por condições específicas, sempre foi inválido.

Diz o Catecismo: "A fecundidade é um dom, um fim do matrimônio, porque o amor conjugal tende naturalmente a ser fecundo. (...) A Igreja, que está do lado da vida, ensinada que qualquer ato matrimonial deve estar aberto à transmissão da vida" (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2366). Porém, "por razões justas, os esposos podem querer espaçar o nascimento dos filhos. Cabe-lhes verificar que seu desejo não provém do egoísmo, mas está de acordo com a justa generosidade de uma paternidade responsável. Além disso, regularão seu comportamento segundo os critérios objetivos da moral. (...) A continência periódica, os métodos de regulação da natalidade baseados na auto-observação e no recurso aos períodos infecundos estão de acordo com os critérios objetivos da moralidade. Estes métodos respeitam o corpo dos esposos, animam a ternura entre eles e favorecem a educação de uma liberdade autêntica. Em compensação, é intrinsecamente má toda ação que, ou em previsão do ato conjugal, ou durante a sua realização, ou também durante o desenvolvimento de suas consequências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação" (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2368-2370).

Como foi dito acima, as razões justas para espaçar o nascimento podem ser tanto físicas, como psicológicas, financeiras, e assim por diante (ver encíclica Humanae Vitae, n. 16), e isso é moralmente lícito se for feito através do métodos naturais. Existe um método de observação do corpo da mulher chamado método Billings, muito seguro se bem utilizado (segurança de 97%, segundo a Organização Mundial da Saúde). Uma rápida pesquisa na Internet mostrará muitas informações sobre ele, mas para aprender a utilizá-lo é importante procurar um instrutor experiente.

Por outro lado, é absolutamente imoral o uso de métodos contraceptivos que tornam o ato sexual infecundo (tais como: camisinha, pílula anticoncepcional, DIU, laqueadura e vasectomia), se utilizados com a intensão de fechar o ato sexual para a geração da vida. Nesses casos, e nos casos que mesmo por meios naturais o casal espaça o nascimento dos filhos sem razões justas para isso, a atitude se reveste de grande gravidade, pois o casal se fecha para a geração de vidas que se comprometeu à acolher quando assumiu o Matrimônio.

5. Luta pela castidade

O Catecismo cita ainda a luxúria como "um desejo desordenado ou um gozo desordenado do prazer venéreo. O prazer sexual é moralmente desordenado quando buscado por si mesmo, isolado da finalidade da procriação e da união" (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2351). Aqui se deve distinguir entre o "sentir" e o "consentir"; o sentir desejo sexual de forma desordenada é natural devido as consequências do pecado original em nós, e por isso mesmo não é imoral; o "consentir" no desejo desordenado, isto é, a atitude que tomamos em relação à este desejo desordenado é que pode ser virtuosa ou imoral, pois o pecado implica vontade. Esta atitude imoral pode ser tanto um comportamento externo ou uma atitude interna de "curtir" o desejo desordenado - e nesse sentido Nosso Senhor Jesus Cristo fala em cometer um adultério através do olhar (MATEUS 6, 27-28).

Com toda a certeza são necessárias renúncias para viver a castidade. O próprio Senhor nos diz: "Aquele que quer me seguir, tome a sua cruz e siga-me. De que vale ganhar o mundo inteiro se vier à perder a sua alma?" (MATEUS 16, 16) Por outro lado, reconhecer a necessidade da renúncia da sexualidade desordenada de forma nenhuma significa que o sexo, em si mesmo, é algo mau, impuro ou pecaminoso. Muito pelo contrário! Significa que a sexualidade é algo tão cheio de dignidade que não pode ser vivido de qualquer maneira.

O próprio Santo Padre Bento XVI escreveu à respeito do amor que os gregos chamavam de "eros", isto é, o amor entre homem e mulher: "Na crítica ao cristianismo que se foi desenvolvendo com radicalismo crescente a partir do iluminismo, esta novidade foi avaliada de forma absolutamente negativa. Segundo Friedrich Nietzsche, o cristianismo teria dado veneno a beber ao eros, que, embora não tivesse morrido, daí teria recebido o impulso para degenerar em vício. Este filósofo alemão exprimia assim uma sensação muito generalizada: com os seus mandamentos e proibições, a Igreja não nos torna porventura amarga a coisa mais bela da vida? Porventura não assinala ela proibições precisamente onde a alegria, preparada para nós pelo Criador, nos oferece uma felicidade que nos faz pressentir algo do Divino? Mas, será mesmo assim? O cristianismo destruiu verdadeiramente o eros? (...) São necessárias purificações e amadurecimentos, que passam também pela estrada da renúncia. Isto não é rejeição do eros, não é o seu « envenenamento », mas a cura em ordem à sua verdadeira grandeza" (DEUS CARITAS EST, 3-5).

Santo Afonso de Ligório, doutor da Igreja, nos ensina: "Depois da queda de Adão, rebelaram-se os sentidos contra a razão, e não há para o homem mais difícil virtude a praticar do que a castidade" (GlÓRIAS DE MARIA, Tratado 3, cap. VI). Mas já dizia um grande sábio que "a juventude não foi feita para o prazer, mas para o heroísmo."

Para viver a castidade, é necessário, portanto, buscarmos:

·         Vida de oração profunda;
·         Participação frequente no Santo Sacrifício da Missa e na Comunhão Eucarística;
·         Devoção à Santíssima Virgem, grande modelo de castidade;
·         Vigilância em relação às tentações;
·         Fuga das ocasiões mais prováveis de queda;
·         Busca do Sacramento da Confissão sempre que for necessário.

É um desafio que vale a pena!

O Caderno

     
     Eu não sei se você se recorda do seu primeiro caderno. Eu me recordo do meu. Com ele eu aprendi muita coisa. Foi nele que eu descobri que a experiência dos erros, ela é tão importante quanto a experiência dos acertos. Porque vistos de um jeito certo, os erros, eles nos preparam para nossas vitórias e conquistas futuras, pois não há aprendizado na vida que não passe pela experiência dos erros. Caderno é uma metáfora da vida. Quando os erros cometidos eram demais, eu me recordo que a professora nos sugeria que a gente virasse a página, era um jeito interessante de descobrir a graça que há nos recomeços, ao virar a página os erros cometidos deixavam de nos incomodar e a partir deles a gente seguia um pouco mais crescidos.

     O caderno nos ensina que erros não precisam ser fontes de castigos. Erros podem ser fontes de virtudes. Na vida é a mesma coisa, o erro tem que estar a serviço do aprendizado, ele não tem que ser fontes de culpas, de vergonhas, nenhum ser humano pode ser verdadeiramente grande, sem que seja capaz de reconhecer os erros que cometeu na vida. Uma coisa é a gente se arrepender do que fez, outra coisa é a gente se sentir culpado. Culpas nos paralisam, arrependimentos não, eles nos lançam pra frente e nos ajudam a corrigir os erros cometidos.

Deus é semelhante ao caderno, Ele nos permite os erros pra que a gente aprenda a fazer do jeito certo. Você tem errado muito? Não importa, aceite de Deus essa nova página de vida, que se chama ‘Hoje’, recorde-se das lições do seu primeiro caderno. Quando os erros são demais, vire a página.
(Pe. Fábio de Melo)

“Deus é Pai e não quer se ocupar com os erros que você cometeu até o dia de hoje. Porque o Amor que Ele tem por você, é um Amor cheio de futuro, Ele não está preso ao seu passado e a Ele não interessa o que você fez ou deixou de fazer de sua vida, a Ele o que importa é o que você ainda pode fazer.”
(Martín Valverde)

A história do lápis

Por Paulo Coelho


O menino olhava a avó escrevendo uma carta. A certa altura, perguntou:
- Você está escrevendo uma história que aconteceu conosco? E por acaso, é uma história sobre mim?
A avó parou a carta, sorriu, e comentou com o neto:
- Estou escrevendo sobre você, é verdade. Entretanto, mais importante do que as palavras, é o lápis que estou usando. Gostaria que você fosse como ele, quando crescesse.
O menino olhou para o lápis, intrigado, e não viu nada de especial.
- Mas ele é igual a todos os lápis que vi em minha vida!
- Tudo depende do modo como você olhas as coisas -, a avó falou. Há cinco qualidades nele que, se você conseguir mantê-las, será sempre uma pessoa em paz com o mundo.

1ª. Qualidade: Você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer nunca que existe uma Mão que guia seus passos. Esta mão nós chamamos de Deus, e Ele deve sempre conduzi-lo em direção à Sua vontade;
2ª. Qualidade: De vez em quando é preciso parar o que estamos escrevendo, e usar o apontador. Isso faz com que o lápis sofra um pouco, mas, no final, ele estará mais afiado. Portanto, saiba suportar algumas dores, porque elas lhe farão ser uma pessoa melhor;
3ª. Qualidade: O lápis sempre permite que usemos uma borracha para apagar aquilo que estava errado. Entenda que corrigir uma coisa que fizemos não é necessariamente algo mau, mas algo importante para nos manter no caminho da justiça;
4ª. Qualidade: O que realmente importa no lápis não é a madeira ou sua forma exterior, mas a grafite que está dentro. Portanto, sempre cuide daquilo que acontece dentro de você;
5ª. Qualidade: O lápis sempre deixa uma marca. Da mesma forma, saiba que tudo que você fizer na vida irá deixar traços, portanto, procure ser consciente de cada ação.

3 de janeiro de 2012

Fé e Política - A Consciência do Cristão autêntico



       O cristão autêntico, imbuído de sua identidade que é a vivência da graça batismal e consciente da necessidade de que como igreja, deve anunciar e se empenhar na construção de uma sociedade justa e fraterna, não pode se omitir neste momento histórico e significativo que é a política.
     Mesmo respeitando a pluralidade de escolha, a consciência do cristão não o libera do compromisso fundamental de votar conforme os princípios religiosos, analisando cada candidato, quem é que o apoia, qual a sua real história de luta ao lado do povo, e qual tem sido sua conduta quando fora da época de eleição.
     Os ditos populares "é tudo a mesma coisa" ou "qualquer um serve", não devem ser lemas para o cristão com responsabilidade. Reina em nosso meio um clima descrédito generalizado em relação à política e ao político. É imprescindível, no entanto, que se compreenda que a pior forma de se fazer política é "não querer saber dela". Não podemos delegar como nossos representantes, pessoas inescrupulosas, de cujas decisões nascem os "esquemas oportunistas", a apropriação indevida dos bens públicos para atender interesses privados, através dos propalados desvios de verba, disseminando a miséria.


Como escolher os canditados?
    
     A preferência deve recair sobre o candidato que possui uma sincera adesão aos princípios fundamentais da ética social cristã, efetiva competência política e reconhecida capacidade de liderança. O voto é um bem sacratíssimo. Portanto, nossa escolha, nosso voto, deve ser no candidato que se mostrar digno de recebê-lo porque testemunha com a sua vida o modelo que escolheu para si e com o qual governará o seu povo, porque demonstra o respeito à dignidade humana e vive os preceitos de Deus.
     Se um candidato já exerceu cargos na política, não votar nele sem antes buscar sólidas informações sobre a sua atuação. Não podemos permanecer escravos dos desmandos e da falta de competência de quem gerencia os recursos para o bem comum. O tempo de caminhada na Igreja, o testemunho (vida cristã coerente), a aceitação de sua candidatura pela própria comunidade onde está inserido e o bom relacionamento com outras comunidades afins são critérios que precisam ser considerados na hora da escolha do candidato.
     Não vote em quem é reconhecidamente desonesto. Lembre-se: voto não se troca por coisa alguma. Se o candidato prometer empregar seu filho, asfaltar a sua rua, abrir uma escola ao lado de sua casa, com certeza ele já prometeu isso para uma porção de outros eleitores. Negue o seu voto! O dito popular: "ele rouba, mas faz", não pode prevalecer na mente e no coração dos cristãos comprometidos com o bem. E é bom "ficar de olho" nos altos gastos das campanhas: quem muito gasta, vai querer o seu dinheiro de volta, de alguma forma, se eleito. O político ideal é aquele que tem uma proposta política viável, defende a vida, os direitos humanos e é sensível aos problemas dos empobrecidos. Luta pelo bem comum e é comprometido com o Evangelho.

Nota:
(Por Victor Oliveira,
Ministério Jovem Dioc. Palmeira dos Índios)


"O político ideal é aquele que tem uma proposta política viável, defende a vida, os direitos humanos e é sensível aos problemas dos empobrecidos. Luta pelo bem comum e é comprometido com o Evangelho."

     Se deparar no dia a dia com uma pessoa de estereótipo assim, como supracitado, é algo ímpar atualmente e por que não dizer, raro! Percebe-se que na realidade nos deparamos com perspectivas e condutas que de certa forma acabam se tornando surreais aos preceitos cristãos. É hora de voltarmos ao nosso “eu interior” para refletirmos sobre as decisões que tomamos e as atitudes que temos frente ao mundo, e seus rebatimentos para a vida plena em Cristo Jesus, para saber votar naquele candidato que mais se aproxima dos bons preceitos. O mundo, em sua totalidade, não evidencia os princípios de Ética e Moral Cristã, e muitas pessoas, agindo de forma egoísta, desonesta e cada vez mais materialista, têm procurado sobressair-se com a ignorância e o desinteresse da população. Não atentar à conscientização social significa dizer que continuaremos sustentando o fingimento, a hipocrisia, a demagogia. Pergunta-se: Até quando sustentaremos a nossa posição às margens da consciência, abraçados e entrelaçados com a insipiência crítica, preferindo ignorar as injustiças que ainda assolam a natureza humana?

     Irmãos, abrir a nossa mente e o nosso coração ao discernimento e a sabedoria é algo fundamental para nossa conduta de cristãos. Precisamos pedi-los intensamente a Deus, por intermédio de Cristo Jesus, para que, ao votar, o façamos de acordo com a vontade de Seu coração.

Paz e Bem!